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2024-11-25

Hiroshi Koike estreia peça inspirada na Guerra de Canudos

Diante do avanço das IAs (inteligências artificiais) e do surgimento de guerras em todo o mundo, faz-se necessário questionar: o que é o ser humano e para onde a humanidade está caminhando? E este é justamente um dos cernes de Saudade na Miragem, com direção e dramaturgia do japonês Hiroshi Koike, que tem sua temporada de estreia no Sesc Vila Mariana, de 30 de novembro a 15 de dezembro, com apresentações de quarta a sábado, às 21h; e aos domingos, às 18h.

O espetáculo questiona a relação entre religião, espiritualidade, conflito, e a ambivalência da justiça, propondo uma visão do futuro inspirada pelo livro A Guerra do Fim do Mundo, de Mario Vargas Llosa, que se debruça sobre a Guerra de Canudos, ocorrida no sertão da Bahia, entre 1896 e 1897.
Danilo Dal Farra, Eduardo Okamoto, Fernando Lufer, Jéssica Barbosa, João Guisande, Júlio Lorosh, Paulo Sokobauno e Yana Piva compõem o elenco de artistas do Brasil, enquanto Jinya Imai e Ichiya Nishikawa são artistas japoneses que integram o time. Os artistas do Brasil foram selecionados a partir de uma audição que contou com 384 inscrições.
“Movido pela arte do encontro, o Sesc recebe a estreia de Saudade na Miragem, do diretor Hiroshi Koike, cuja presença se dá a partir da longeva parceria com a Fundação Japão São Paulo, dando início às celebrações dos 130 anos do tratado de amizade entre Brasil e Japão, reverberando tanto a pluralidade da cultura japonesa quanto desdobramentos próprios das relações interculturais”, afirma Luiz Deoclecio Massaro Galina, diretor do Sesc São Paulo.

PROJETO FIREBIRD

O espetáculo faz parte do projeto Firebird e faz residência no CPT - Centro de Pesquisa Teatral. A iniciativa lançada em 2022, que busca refletir sobre o futuro do mundo a partir de diferentes culturas, propõe a criação e colaboração entre artistas e músicos de diferentes origens da Ásia, Europa e América do Sul.
“O objetivo do projeto é sugerir a coexistência e celebrar as diferenças. Ser capaz de imaginar a coexistência é mais importante do que nunca, neste momento que o mundo está mudando rapidamente e enfrenta uma crise que afeta todo o planeta Terra. Firebird é um projeto para imaginar o renascimento humano diante do caos, da guerra e da destruição”, explica Koike.

A cada ano, o projeto cria uma nova performance dirigida por Koike em um desses lugares. O primeiro trabalho surgiu na Polônia, em 2022, e trouxe à cena uma versão do romance “Kosmos”, de Witold Gombrowicz. Em 2023, a segunda etapa se inspirou no clássico grego, a “Odisséia”, de Homero, com artistas na Malásia. Agora temos a estreia no Brasil e a última montagem será no Japão, em 2025.

***

A montagem no Brasil é o terceiro trabalho do projeto e discute o tema “Destruição e Nascimento - Como poderemos seguir como seres humanos?”. Aqui, a iniciativa conta com o apoio da Fundação Japão, produção da Périplo e realização da Hiroshi Koike - Bridge Project e do Sesc em São Paulo.
O diretor Hiroshi Koike conta que escolheu o Brasil para a coprodução porque já havia trabalhado com artistas brasileiros na década de 2000 e, a partir dessa experiência, sentiu uma profunda afeição pela cultura brasileira e pela coexistência no país entre pessoas de diferentes etnias e grupos.
“O Brasil é realmente o país mais avançado do mundo no processo de se tornar multicultural e multiétnico. O Japão está próximo do exato oposto. A sociedade brasileira define a diversidade em pessoas, cultura e filosofia. O que vemos no país pode ser uma pista para a direção da humanidade à medida que nos tornamos mais diversificados e globalizados. Eu queria criar com artistas brasileiros na terra e na cultura onde artistas como Glauber Rocha, Cartola e Sebastião Salgado viveram. Fui fortemente influenciado e inspirado por sua ousadia”, relata o diretor.
O caminho leva a uma compilação de todos esses trabalhos para criar uma nova obra, que será apresentada em Kyoto e Tóquio, no Japão, em 2025.
Revisitando Canudos

Saudade na Miragem é inspirado na Guerra de Canudos, conflito armado que ocorreu no interior da Bahia, entre 1896 e 1897. Na ocasião, o exército brasileiro, pressionado por latifundiários da região, dizimou milhares de pessoas lideradas pelo peregrino Antônio Conselheiro, que buscava uma salvação milagrosa para a grave crise econômica, social e hídrica enfrentada pela população.
O espetáculo se passa no futuro, de onde falam pessoas mortas, o que permite um trânsito de tempos e uma combinação de realidades que inclui passado e presente, sem a necessidade de situar geograficamente ou de muita especificidade. Nesse sentido, a Guerra de Canudos, ou o livro de Mario Vargas Llosa, A guerra do fim do mundo, interessam mais pela narrativa épica, que é um tema perseguido por Hiroshi em todos os espetáculos do projeto Firebird.
O espetáculo não se propõe a resgatar fidedignamente o episódio histórico, mas lança um olhar para esse evento como um espelho das lutas contemporâneas, interligando questões como a memória coletiva, a dor e a regeneração. A ideia é reimaginar de forma criativa a obra e os personagens de Mario Vargas Llosa em “A Guerra do Fim do Mundo”.
Sobre a escolha dessa história, o diretor Hiroshi Koike comenta: “Para os brasileiros, a Guerra de Canudos é um evento que representa um profundo desconforto, como um osso atravessado na garganta. Da mesma forma, a Guerra do Pacífico, o terremoto de Tohoku em 2011 e o acidente na usina nuclear de Fukushima devem ser sempre questionados pelos japoneses. Por que tudo isso aconteceu? Nesse sentido, Canudos não é um problema distante, mas uma possibilidade que pode ocorrer em qualquer lugar do mundo”.
A narrativa é composta por personagens complexos que representam a diversidade e os conflitos da experiência humana. Através de uma linguagem teatral que mistura elementos de diversas tradições artísticas, o espetáculo explora a tensão entre caos e harmonia, questionando o que significa viver em um mundo tão fragmentado.
Em meio a uma realidade global marcada por crises e divisões, "Saudade na Miragem" propõe uma visão de futuro que busca as "possibilidades de viver". A obra convida o público a embarcar em uma jornada de autoconhecimento e entendimento, enfatizando a importância do diálogo e do respeito entre diferentes culturas. Ao final, a peça não só revisita o passado, mas também aponta para um caminho de esperança e regeneração em tempos difíceis.
O encenador ainda revela que a proposta do espetáculo é “refletir sobre novas formas de futuro, inspirando-se tanto nos eventos reais quanto na ficção, enquanto se expressa a grandeza de um universo em que humanos que nunca se misturam começam a se entrelaçar. Essa visão do mundo pode ser entendida como a percepção do lugar onde reside a possibilidade que emerge do amor infinito. E ao confrontar esse amor infinito e a força que dele decorre, o ser humano pode sucumbir à loucura, e a justiça, de fato, pode desaparecer completamente”.
“Confrontos, conflitos, guerras, enquanto as pessoas têm o potencial para o diálogo, o respeito e a harmonia. Por meio do ato de criar com artistas que normalmente não estariam juntos no palco, o projeto visa demonstrar a possibilidade de um mundo harmonioso”, acrescenta.

Sobre Hiroshi Koike

Diretor, dramaturgo, coreógrafo e diretor de cinema, Hiroshi Koike nasceu na cidade de Hitachi, província de Ibaraki, no nordeste do Japão. Ele fundou a companhia Pappa TARAHUMARA em 1982, com o qual escreveu, dirigiu e coreografou 55 produções ao longo de 30 anos.
Em 2012, lançou o Hiroshi Koike Bridge Project (HKBP), cuja missão é produzir projetos colaborativos sobre educação, disseminação e criatividade, criando pontes entre diferentes entidades. Com o grupo, ele escreveu, dirigiu e coreografou 25 produções até o momento. Dirigiu trabalhos em 16 países e suas produções foram apresentadas em outros 41 territórios. Seus trabalhos foram assistidos em vários teatros internacionais e estiveram em inúmeros festivais internacionais de teatro.
No começo dos anos 2000, apresentou no Sesc em São Paulo espetáculos como Ship In a View (Navio à Vista) e Three Sisters (As Três Irmãs).


FICHA TÉCNICA
Idealização: Hiroshi Koike Bridge Project - Odyssey
Concepção, roteiro e direção geral: Hiroshi Koike
Elenco: Danilo Dal Farra, Eduardo Okamoto, Fernando Lufer, Jéssica Barbosa, João Guisande, Julio Lorosh, Jinya Imai, Ichiya Nishikawa, Paulo Sokobauno e Yana Piva
Composição e execução musical: Gregory Slivar
Arte/cenografia: Renato Bolelli Rebouças
Figurino: Juliana Bertolini
Vídeos/projeções: Ivan Soares
Desenho de luz: Gabriele Souza
Desenho de som: Alê Martins
Caracterização: Amanda Mantovani
Assistência de direção: Marie Kuroda, Maria Lívia Goes
Tradução do roteiro: Rita Kohl
Tradução / interpretação: Bárbara Freitas e Vini Silveira
Operação de luz: Rodrigo Damas
Técnica de palco: Calu Batista, Evas Carretero
Assistência de arte/cenografia: Anísio Serafim
Assistência de figurino: Vi Silva e Paulo Rodriguez
Assistência de caracterização: Francisco Nicioli
Confecção de figurinos: Fran Lima
Acabamentos dos figurinos: Isadora Poeta Martinez Montez e Yasmin Santos
Estágio de figurino: Karimah Moreira Santos
Cenotecnia: Isaac tiburcio, Alex Virgulino e Renato Brito - Tiburcio produções
Máscaras: I Wayan Tangguh e I Made Sutiarka
Confecção de maquetes: André Moreau
Pintura de arte: Felipe Ikehara
Costura de paineis: Enrique Casas
Fisioterapia: Rodrigo Vicente, Jessica Lopes, Milena Vieira e Letícia Colombo - Ação fisio
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Fotografia de cena: João Caldas Fº
Assistência de fotografia: Andréia Machado
Retratos: Daniela Toviansky
Maquiagem para Retratos: Ester Ganev
Assistência de maquiagem: Carolina Rocha
Arte gráfica: Clayton Colasso e Pryscila Colasso
Editoração: Cris de Paulo
Redes sociais: Jorge Ferreira
Assessoria jurídica: Laís Machado
Assistente de produção: Nabi Pacheco
Produção executiva: Laís Machado
Coordenação de produção: Adolfo Barreto
Direção de produção: Marie Kuroda e Pedro de Freitas
Produção geral: SAI Inc. e Périplo
Planejamento e gestão financeira: Hiromi Hosaka, Megumi Nakatani
Apoio institucional: Fundação Japão em São Paulo
Subsídio: Departamento para Assuntos Culturais, Governo do Japão, Conselho de Artes do Japão
Patrocínio: The Japan World Exposition 1970 Commemorative Fund – KANSAI OSAKA 21st Century Association
Realização: Sesc SP, SAI Inc. e NPO Bridge for the Arts and Education




Serviços Saudade na Miragem
De 30/11 a 15/12
Quarta a Sábado às 21h – Domingo às 18h
Teatro Antunes Filho – Sesc Vila Mariana
Classificação: 12 anos
Ingressos: Os ingressos estarão disponíveis no aplicativo Credencial Sesc SP a partir do dia 19/11 ás 17h e no dia 21/11 às 17h, nas bilheterias da rede Sesc. R$ 21 (credencial plena); R$ 35 (estudante, servidor de escola pública, idosos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$ 70 (inteira)

Sesc Vila Mariana | Informações
Endereço: Rua Pelotas, 141, Vila Mariana - São Paulo
Central de Atendimento (Piso Superior – Torre A): terça a sexta, das 9h às 20h30; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (obs.: atendimento mediante a agendamento).
Bilheteria: terça a sexta, das 9h às 20h30; sábado, das 10h às 18h e das 20h às 21h; domingos e feriados, das 10h às 18h.
Estacionamento: R$ 8,00 a primeira hora + R$ 3,00 a hora adicional (Credencial Plena: trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes). R$ 17 a primeira hora + R$ 4,00 a hora adicional (outros). 125 vagas.

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